Vida Brejeira

Eu sou do interior, Nasci em Salvador, Ba, mas não fui criada lá. Embora tenha passado um bom tempo de minha adolescência por lá. Aos 24 anos cheguei ao Rio de Janeiro. Fui criada em vários lugarejos da Bahia. Iramaia, Iaçu, Queimadinhas, Feira de Santana, Barrocas, Marcionilio Sousa, Salvador e Camaçari. Tenho boas recordações desses lugares. Mas ansiava com a big city.
Sempre quis morar numa grande metrópole, porque a vida brejeira não me seduzia. Na verdade, eu era a vida brejeira. Os grandes prédios, as enormes empresas, o alvoroço das pessoas nas ruas movimentadas me fascinavam. Pra mim, viver numa cidade grande era sinônimo de vitória.
Eu, numa cidade grande, seria uma vitoriosa. Estudaria e trabalharia até conquistar meus objetivos, que são muitos mas insignificantes.
Mas dizem que tudo tem um preço e certamente há um grande preço para meus simplórios objetivos, deixar de escrever era um deles.
Um dos meus prazeres é escrever. Escrevi algumas coisas, e por covardia perdi a oportunidade de publicar alguns escritos. Perdi algumas oportunidades nesta vida. Mas como diz a Palavra de Deus: De que adianta ganhar o mundo inteiro e perder minha alma? Mt 16:26. É preciso amar o bem, querer o bem, não abrir mão do bem para não perder sua alma.
Uma vez, escrevi sobre um menino que não tinha casa. Eu rasguei essa estória. Achei sem graça, sem sabor. Falava sobre um menino perdido numa cidade grande e seu maior sonho em querer ser motorista de ônibus.
E, ontem, na estação de Madureira, aqui no Rio de Janeiro, me lembrei dessa estória. Vi uma briga entre dois garotos. O menino de minha fabulação estava ali, diante dos meus olhos. Um disfarce? Não, foi uma briga de verdade?!. Fiquei nervosa com aquelas agressões. Pra mim não é normal duas crianças viverem na rua e se agredirem como dois filhotes de leões. Que hipocrisia. Para algumas pessoas é normal aquela cena. Para mim nunca foi e nunca será. Gostaria de passar e não prestar atenção nessas coisas. Mas é que do lugar de onde venho as crianças não viviam na rua. Elas brincavam no fundo de um quintal ou nas frentes das casas. Trepavam em mangueiras, nadavam no rio, brincavam com outras crianças e jogavam futebol com bolas feito de meia e qualquer enchimento.
Quando é que vou fechar meus olhos e vou deixar de pensar naquilo que não me interessa? O mais difícil ainda é ler na Bíblia que devemos amar nosso próximo como a nós mesmos. Se não conseguimos amar duas crianças, entregamos ao acaso e ao destino e fazemos de conta que está tudo bem.
Eu nunca devia ter sonhado tanto. Eu queria aquela vida brejeira novamente. Mas agora é tarde. Já escrevi muitos escritos e provei dos tumultos da cidade grande. Incapaz de cuidar de mim mesma, tento servir aos outros com aquilo que me falta. Isso tudo, porque tento pegar pelas orelhas um cão morto e sem dono. Eu queria aquela vida brejeira.

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